sábado, 12 de outubro de 2013

SONHOS...





                  
                        Sonhos são como rosas: quando paramos de regá-las, elas murcham





Ela sonhava, ela sonhava. Lia a Bíblia e imaginava que em sua vida iria aparecer um Boaz, que assim como fez com Rute, iria protegê-la dos homens sem honra, que proveria, dando-lhe mantimento e por último a honraria diante da sociedade para depois possui-la. Ela sonhava que sendo obediente como foi Ester, ela seria apreciada e amada por um Assuero e assim, teria se tornado uma espécie de rainha, mesmo sendo simples, mas uma rainha de um homem que a amava. Porém, sonho é sonho.
           
Ela acordou. Com um estalo de realidade, percebeu que não havia Assuero nem Boaz naquele homem que ela amara e que confiara. Entregou-se, esqueceu-se de esquecer que o homem que ama não diz, faz. Ela foi ingênua, ela foi confiante, ela projetou seu ser insignificante de mulher boba apaixonada naquele ser malicioso.
          
Ela foi tomada pela capacidade de ser mãe. Ela carregou dentro do ventre durante nove meses o fruto do amor que achara ser a parte de duas maçãs, mas era apenas a parte esfacelada do amor dela. Ela era uma coitada. Todos a olharam de lado. Se pudessem, como fizeram com a adúltera, apedrejariam. Mas ela não tinha um Davi que defendeu a sua amada Batseba. Ela não tinha Jesus que protegeu a adúltera de forma física, mas espiritualmente o Mestre não a deixou só. Ela tinha somente um homem de mente fraca, dominado pela cultura de pessoas de ideias fracas, que a fadaram ao fato de mulher sem valor, pelo simples fato de ter valorizado alguém que ela considerava um homem.
        
Ela viu seu amado casar com uma mulher que era filha de pastor, protegida por uma moral de uma massa que determinou que aquela mulher era decente: ela não. Ela era uma mulher Dalila, era uma mulher Jezabel. Dalila e Jezabel eram mulheres que não amavam, mas ninguém viu que aquela mulher amava, amava tanto que acreditou no amor de outra pessoa por ela.
       
Ela entrou em seu quarto, olhou para sua cria que lhe deu vontade de viver mais um pouco. Deu-lhe força para continuar na vida por um momento. Ela aguentou as afrontas, as pequenas pedradas de palavras que doiam mais que paralelepípedos. Ela foi tentando não morrer mais um puco a cada dia, para transmitir a sua cria um pouco de esperança. Ela se tornou a titia da igreja. Ela era a repudiada do século XXI. 
       
Tantos caminhos ela tinha: poderia estudar, trabalhar de forma forte, adquirir o respeito de quem sabe respeitar, pois quem respeita, respeita uma prostituta como respeita um presidente; mas quem não respeita, arruma desculpa para desrespeitar a qualquer pessoa. Mas ela não podia. Ela não sabia como lutar contra aquela nuvem de facas jogadas contra seu coração. A noite, as lágrimas desciam de seu rosto como cachoeiras, o desespero de nunca entrar de véu e grinalda na igreja a deixaram cada dia mais triste. Ver filhas de pastor, de caráter totalmente perverso casar, somente porque o homem iria adquirir um status quo, a deixou mais triste ainda. Quem era ela? Uma filha de viúva. Quem era ela? Nada!
     
Jesus morreu na cruz por ela, mas a igreja esqueceu deste detalhe e isto acabou apagando da mente dela também, até que um dia, sem que pudesse perceber, sua filha estava grande e seguiu seu caminho. Ela velha, mais do que a idade tinha imposto. Resolve ir. Foi ao encontro do noivo que a esperava. O que aconteceu na igreja? Todos disseram: "castigo". Todos esqueceram que também são humanos e tem pecados. Todos foram juízes da lei dela durante a vida e na morte. Somente no trono branco possa provar o valor daquela mulher, como será provado o valor dos grandes homens e mulheres de Deus que morreram como mártires, mas para a sociedade eles não tiveram valor.