segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

RESENHA DO LIVRO "RESSURREIÇÃO", DE MACHADO DE ASSIS

Félix: o Otelo brasileiro


O livro "Ressurreição" é o primeiro romance publicado de Machado de Assis. Ele é narrado em terceira pessoa, em que o narrador é, de certa forma, onisciente, porque apreende e expõe ao leitor o que se passa na cabeça das personagens. O narrador deste romance já aponta para o grande estilo de narrar que podemos observar em romances como "Dom Casmurro" e outros grandes romances de Machado.

As personagens principais são: Félix, um ex-médico que recebera uma herança e desde então vive os prazeres da vida burguesa. Logo em seguida, no romance, aparece a personagem Viana que anunciará a chegada da segunda personagem principal: a viúva Lívia. O encontro de Lívia e Félix acontece na casa do Coronel e D. Matilde que tem uma filha chamada Rachel que era uma jovem apaixonada por Félix. Félix também tem um grande amigo Meneses que tem por característica o romantismo e, também, há o antagonista L. Batista que mesmo casado, flerta com Lívia, mas é desprezado pela mesma.

No início, Félix se mostra inflexível ao amor, tanto que seu amigo Meneses chega meio que desesperado, com medo de estar sendo traído pela sua amante, então entra em um diálogo com Félix e, por meio deste diálogo, podemos conhecer um pouco do Félix. Segue a citação:

Dou-te enfim um conselho, disse Félix.
Meneses levantou os olhos com ansiedade.
- Qualquer que seja a resolução que tomares, continuou Félix, não recues um passo.
- Onde acharei esta resolução?
- Aqui, disse Félix pondo-lhe o dedo na testa.
-Oh! Não! suspirou Meneses; a cabeça nada tem com isto, todo mal está no coração.
- Recorre á cirurgia: corta o mal pela raiz.
- Como?
- Suprime o coração. (MACHADO, 2008, p. 40).

Esta percepção do amor na mente de Félix muda drasticamente depois do baile de valsa na casa do Coronel, onde ele percebe o flerte do Batista, mas mesmo assim resolve se aproximar de Lívia e ambos recordam de encontros anteriores. Lívia tinha intenção de viajar, pois gostava muito de passear pela Europa, mas ao ouvir Félix dizer que a amava, ela desiste da viagem.

O romance tinha tudo para ser perfeito. Os dois vivem dias românticos em suas chácaras, mas percebendo o namoro entre os casais, L. Batista resolve se vingar por ter sido rejeitado, então percebe um grande defeito em Félix: "o veneno do ciúme". Então o Batista simula olhares, põe dúvidas sobre a honestidade e integridade da viúva Lívia e, por isto, o romance começa a ficar meio atribulado, com idas e voltas. Félix, às vezes, percebe sua loucura em ver monstro no que na verdade são moinhos de vento. Depois de muitas aflições e dúvidas, a jovem Rachel escreve uma carta sobre a honestidade da Lívia e, após isto, Félix resolve casar. Todavia, antes que o casamento aconteça, Batista faz uma manobra para acabar com o romance. Ele envia anonimamente uma carta para Félix que dizia:

"Mísero moço! És amado como era o outro; serás humilhado como ele. No fim de alguns meses terás um Cirineu para te ajudar a carregar a cruz, como teve o outro, por cuja razão se foi desta para a melhor. Se ainda é tempo, recua!" (MACHADO, 2008, p. 122).

Depois desta carta, o fraco do Félix termina de forma abrupta e sem explicação a cerimônia de casamento. Lívia fica muito doente. Este fato só fica esclarecido devido a intervenção de Meneses que mesmo amando Lívia, queria ser justo e também Raquel pediu ao mesmo que buscasse a verdade para ajudar a pobre viúva. Para saber se o casal reata, será necessário ler o livro, mas posso dizer que Raquel e Meneses mostraram ter um caráter similar em justiça, casaram-se e foram muito felizes. 

"O amor é fogo que arde sem se ver", como bem disse Camões... e quando ele não é cultivado em um coração de boa índole, será a tesoura de jardineiro que cortará a rosa. Pois, o que a pessoa é capaz de fazer aos outros, irá projetar no outro que ama. O amor, de centelha anímica, virará uma saraiva que consumirá a ambos e feliz o que percebe logo e foge dos amores mortais passionais. 


Cena de uma peça de W. Shakespeare, chamada "Otelo de Veneza", em que enganado por Iago, a personagem principal mata injustamente sua amada Desdemona. 


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