terça-feira, 9 de dezembro de 2014

PALAVRAS AVULSAS OU FACADAS NA ALMA?

NARRA-DOR CONTA SOBRE ALGUNS CASAIS


Personagens:
Mulher
Marido
Narra-dor

Narra-dor: - Olá! Eu sou o narra-dor. Aquele que vai vos contar a dor. Não é fácil o meu trabalho. Vivo a contar o que sentem os outros e de tanto contar já faz parte de mim tanta infâmia. Agora segue em meus traços, olhos, nariz, boca e vista o que de minha boca se espalha. E nesta feita, irei contar a história de um casal que mora em quase todos os confins das casas do mundo. Pode mudar as raças, as tribos e as nações, mas onde habita o egoísmo, estes personagens estarão. E a história começou:



Marido: - Você não faz nada que preste. Estás ficando gorda e descuidada. Não se arruma, não compra uma roupa que preste e ainda reclama de tudo.

Mulher: - Mas o dinheiro que você me dá, só comporta as despesas diárias e quando peço para você me dar dinheiro para ir ao cabeleireiro, você diz que é besteira. Esqueceu que não trabalho. Se não me der, não poderei fazer.

Marido: -Então vai procurar um emprego mulher.

Narra-dor: - Foi difícil a peleja, por passar muitos anos sem trabalhar e se atualizar, a Mulher foi dispensada em várias das entrevistas que fez. Mas por indicação de uma amiga, meses depois, a dispensável arrumou um emprego e entre uma hora e outra de folga, eis mais uma questão.

Marido: - Chego em casa e tá tudo bagunçado. No fim de semana esta mulher está arrepiada, não se arruma. Não falava do dinheiro, agora tem e não se cuida.

Mulher: - Mas eu preciso arrumar a casa e quando termino de fazer, já acabou o fim de semana.

Marido: - Estou cansada de você. Sempre de cara feia e com mau humor. Você não pode ser como àquelas meninas do Pânico não?! Elas riem até com paralelepípedos no dedão do pé. Já tu mulher desgraçada, vive reclamando de tudo e ainda por cima, agora, depois que trabalha, não arruma a casa.

Narra-dor: - Neste momento a mulher não responde e só chora. O marido sai e ela termina suas obrigações em pranto. Tenta dissimular com óculos e vai ao trabalho. Durante todo o tempo, seus pensamentos, ou melhor, os pensamentos malignos invadem sua mente. Tentando-a parar, destruindo seus traços de mulher virtuosa. Ela ouve várias mulheres dissimuladas dizendo o quanto seus maridos, amantes e namorados são atenciosos e elas não se dedicam. Ela pode perceber. Na sua mente só tem revolta e dor. É assim que seu ser volta para casa. Sem amor, sem vida, sem paz e sem vontade de continuar.


Mulher (monólogo): - Eu não sirvo para nada. Estou feia. Envelhecendo. Meu esposo não se importa com os meus problemas, nem percebe que já estou cansada da incompreensão e o descuidado. Já nem sei se o amo. Já nem sei se me amo. Ele disse tantas vezes que não sirvo para nada, que não sou nada, que acabei absorvendo e acredito que ele está certo. Eu não sou nada. Tal como Eco, que morria de amor por Narciso, acabei me definhando por causa do narcisismo de meu esposo. Ele só pensa nele e eu também, de tanto pensar nele, esqueci de mim. Quem sou eu?! Meus cabelos, meu rosto, minhas beleza? Estou cansada de tudo. Quando ele chegar, irei colocar tudo para fora. Chega! Chegaaaa!

Narra-dor: - Quando o marido dela chega, já não é ela que está, mas o capeta que tomou o lugar no coração dela.

Marido: - Mulher, cadê o almoço?

Mulher: - Está na mesa. Coloque, porque tenho que chegar cedo no trabalho hoje.

Marido: - Você não serve para nada mesmo. Arrumou outro homem lá foi. Quem é? Quem é o caçador de múmia? (O Marido fala rindo).

Mulher: - Chega. (quebrando alguns copos que estava lavando na pia). Estou cansada de ouvir que não sirvo para nada, que estou gorda, feia e desarrumada. Por que você não vai ao centro e compra uma roupa para que possa ser, ou melhor, estar bonita? Por que você não vai ao centro é compra um perfume para poder tirar este cheiro miserável de cebola e alho disgramado? Por que você não me ajuda a lavar uma louça, para que possamos almoçar juntos e conversar. Sabia que eu sou gente, eu como, bebo, durmo e faço o dois. (Mulher começa a chorar). Por que você não percebe que gastei minha juventude e agora estou a gastar minha maturidade contigo e ainda você tem a coragem de dizer que não sirvo para nada. O nada que servi a vida toda foi você. Você é o nada que consumiu a minha vida. Estou farta de seus desaforos e maus tratos mau-rido. 

Marido: - Cala a boca mulher, senão vou quebrar seus dentes e arrancar seus cabelos de um por um. Até estes canhões que tu tem nas pernas arranco também.

Narra-dor: - Neste momento, o balão de pensamento da mulher era este: 


Marido: - Só porque arrumou um emprego acha que pode falar assim comigo. Vou te ensinar a me respeitar. Vou pegar a primeira mulher que vir na minha frente e vou mostrar que posso arrumar uma melhor que você. Aliás, qualquer mulher é melhor que você.

Narra-dor: - Ambos ficam acabados com as palavras que saem como flechas direcionadas ao coração. Destruindo o amor e o carinho. O que deveria ser um almoço para se alegrar com as dádivas da vida, auxiliando no valor de cada um, unindo-os para refletir sobre problemas existentes no mundo, torna-se um combate em que os dois saem perdendo. Eles se amam, mas a mágoa, o ego que não permite pedir perdão e perdoar, a vontade de seguir o caminho mais fácil, que converge no mais solitário, é o que prevalece. E assim, seguem o resto do dia de trabalho, na maratona da vida:



Narra-dor: - E saem os dois cada um para seu lado. Falam para família, amigos, periquitos e papagaios tudo que se passara em casa. Os amigos dizem: "Arruma uma de vinte". Amigas dizem: "Você é independente, vai vier sua vida com seus filhos". Deus, por meio das palavras de seu filho Jesus Cristo ensina: "O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (João: 15:12). Eles preferem ouvir quem? Estas são veredas que nosso coração encontra todos os dias. Qual caminho a seguir? O que a maioria das pessoas que você conhece seguiu ou seguiram? E de acordo com suas escolhas, quais foram as mais sucedidas? Estou cansado de narrar a dor, por isto, nesta história, que pode ser a sua, deixarei que você escolha qual o caminho a seguir. Todavia, gostaria de contar a história de uma mulher que escolheu o caminho que Jesus ensinou. O nome desta mulher é Mônica, a mãe de Agostinho de Hipona.

Em seu livro "As confissões", Agostinho de Hipona conta que sua mãe era uma distinta Cristã, que sofrera muitas aflições com o esposo Patrício, mas ao contrário de muitas mulheres, nunca contou ou reclamou suas dores a alguém terreno, mas as contou a Deus. Seu testemunho de resignação e amor tocou o coração de marido e filho, sendo até hoje um exemplo de testemunho vivo. Ela não foi Platão, Aristóteles, José Saramago, ou qualquer escritor que criou sistemas filosóficos como os primeiros, ou ficção, como o segundo. Esta mulher marcou a história com sua vida, seguindo o caminho de amor, cuidando de sua família. Como afirmara Agostinho: "Assim era minha mãe, seu íntimo Mestre, a ensinastes da escola do coração" (AGOSTINHO, 1987, p.160).

 Depois destas história toda, quando pensar em brigar:


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

ENTRE QUATRO PAREDES O INFERNO SÃO OS OUTROS

EXISTENCIALISMO

[...] Então, isto é que é o inferno? Nunca imaginei... Não se lembram? O enxofre, a fogueira,
a grelha... Que brincadeira! Nada de grelha. O inferno... são os outros.
Personagem Garcin
In: Entre quatro paredes, de Jean-Paul Sartre
 

Uma das frases mais intrigantes dos pensadores existencialistas é "o inferno são os outros", contida no livro "Entre quatro paredes", de Jean-Paul Sartre. Esta obra pertence ao movimento filosófico denominado existencialismo, que surgiu no meio do século XX, na Europa. Os principais pensadores do existencialismo ateu são: Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Simone de Beauvoir. Estes pensadores desacreditavam na existência de Deus e se assumiam sua existência de forma irônica, tinham-no como opressor dos seres humanos, porque, segundo eles, Deus havia criado o mal para o mundo e o mesmo aflige com castigos.  Deus é tomado como uma criação de linguagem que deve ser rompida para que o homem possa exercer sua liberdade. Sendo assim, não existindo Deus, não há princípios éticos pautados em uma moral Cristã, mas cada ser humano iria seguir os princípios morais pautados em suas escolhas. Partindo da liberdade individual inerente a cada indivíduo, sendo uma má vontade (má fé) não assumir esta mesma liberdade. Portanto, o único erro do ser seria transferir esta escolha para outrem. Assim sendo, todos os seres humanos estão fadados à liberdade. 

Para compreendermos um pouco da visão existencialista, vamos fazer uma singela leitura da obra "Entre quatro paredes", de Jean-Paul Sartre, onde podemos ver alguns dos princípios desta cosmovisão. Em um salão, entre quatro paredes, inicia-se a peça teatral com o diálogo entre as personagens O Criado e Joseph Garcin, que era "publicista e homem de letras" (p. 6). O lugar é descrito como um salão do tipo Segundo Império, onde nada combina e o tédio é a monotonia fazem a filantropia do lugar. O Criado, de forma monótona, responde às perguntas sobre o lugar que se trata do inferno. Na segunda cena, entra a personagem Inês, que observa em silêncio o lugar, trazendo a admiração do Criado por não ouvir nenhuma interrogação. Para completar o trio e o lugar na terceira poltrona, entra Estelle. 

Por se tratar do inferno, Inês acredita que Garcin é o carrasco que iria afligi-la por suas culpas, mas este afirma não tratar deste personagem infernal. Porém, os tiques nervosos de Garcin incomodam a Inês que reclama, fazendo-o colocar as mãos no rosto. Ao entrar e ver o homem com a mão no rosto, Estelle fica apavorada, pois achava que se tratava de seu ex amante sem rosto, posto que havia se suicidado com um tiro na cara. Logo neste encontro das personagens, podemos entender o que se passa com as mesmas, por meio da forma como cada uma das mulheres veem Garcin. Cada uma o enxerga por meio de seus temores. Garcin pergunta pelos instrumentos de tortura infernais que deveriam ter no inferno. Inês pergunta pelo carrasco que iria trazer-lhes o horror, mas Estelle já se aproxima do que iria acontecer, pois teme à perseguição do seu erro expresso no homem que se matara por causa dela. 

Dando seguimento a história, cada um tem curiosidade de saber qual o fato que os teria trazido ao inferno. Cada um narra seu erro que se torna uma arma de tortura nas frases seguintes. Inês é uma mulher que odeia homens e se apaixona por Estelle, que por sua vez se apaixona por Garcin, desejando se entregar a ele, mas ele fica impossibilitado de ter um pequeno prazer no inferno, porque o olhar de Inês, que deseja Estelle sempre está sobre ele, apontando a fraqueza que fora antes confidenciada. Sempre que se aproxima de Estelle, Inês chamava Garcin de covarde, posto que morrera de forma frouxa e, em vida, aproveitava-se para tortura sua esposa. Desde as confidências de início, até o fim da peça, tornam-se cada um o inferno para o outro. Como podemos ver neste breve diálogo onde Garcin e Inês brigam: 

INÊS – (Encarando-o sem medo, mas com enorme surpresa) Ah! (Um tempo) Esperem aí. Agora compreendo, agora sei porque nos puseram juntos. GARCIN – Tome cuidado com o que vai dizer. INÊS – Vão ver como é tolo. Tolo como tudo. Não. Não existe tortura física, não é mesmo? E, no entanto, estamos no inferno. E ninguém mais chegará. Ninguém. Temos que ficar juntos, sozinhos, até o fim. Não é isso? Quer dizer que há alguém que faz falta aqui: o Carrasco (p. 13)

A leitura concernente ao existencialismo que podemos fazer é que Sartre transforma um elemento de simbologia Cristã em um evento prosaico do cotidiano, ou seja, o inferno não é um lugar onde há seres metafísicos que atormentam os homens pelos seus pecados, mas são as escolhas das personagens que se tornam armas de torturas. Porém, por que isto acontece? Se o universo existencialista buscava ser livre de culpa e afirmava que toda escolha feita pelo homem é boa, como pode ser estas escolhas serem elementos de culpa para o inferno criado na obra de Sartre? Se há culpa, então não conseguiu o existencialismo se livrar do pressuposto dos erros expressados na Bíblia?! E indo ainda mais adiante, podemos dizer que há uma contradição na afirmação satriana de que seria o homem incapaz de fazer uma escolha ruim. Como vemos, as personagens cometeram crimes por vaidades, foram incapazes de exercer sua liberdade com boas escolhas. Estelle trai o marido e tem um filho com o amante, mas mata a criança na frente do jovem que não suporta a cena grotesca e se suicida. Garcin, por sua vez, havia traído sua pátria, mas antes, havia destruído a vida da mulher de desgosto, com maus tratos verbais e traições explícitas, chegando ao ponto de ter como amante a própria empregada, fazendo a esposa lhes servir café na cama maculada. E Inês havia matado um homem com a sua amante. Todas as escolhas das personagens foram ruins, tanto que as mesmas se tornaram o inferno pessoal de cada um.

O existencialismo afirma que somos nós que nos tornamos o que somos. "Para os seres humanos a existência precede a essência; as pessoas fazem de si mesmas o que são" (SIRE, 2009, p147). O que podemos perceber é que "os outros", como se vê na peça, são apenas os espelhos que fazem os seres humanos verem a si mesmo. Em um momento do diálogo, Estelle deseja passar batom, mas no inferno não há espelho, então Inês se oferece para que a outra possa se ver por meio do espelho de seus olhos. Mas Estele teme a subversão de sua imagem pela outra. E afirma que o espelho que ela usava em vida era material domesticado.

Com minha pequena visão, posso dizer que o homem sem Deus é o mais miserável dos seres. Porque ele irá perder o Norte de boas escolhas, como aconteceu com as personagens, e não terá um remidor para a consumação inerente por seus pecados. Como afirma o próprio Camus, em seu livro "A queda": "Para qualquer pessoa que está sozinho, sem Deus e sem um mestre, o peso dos dias é terrível" (In: Enciclopédia de Apologética, de Norman Geisler). Ainda na mesma Enciclopédia Apologética, podemos felizmente aprender que o próprio Sartre se voltou para o Deus que havia renegado na sua mocidade: 

[...] Dois homens, Alain Larrey e Michael Viguier, que viviam em Paris em 1980, relatam que, dois meses antes de morrer, Sartre comentou com seu médico católico que 'se arrependia do impacto que suas obras tiveram sobre os jovens', lamentando que tantos 'as tivessem levado tão seriamente' (p. 799), por causa disto, recebeu o apelido - de sua ex amante Simone de Beauvoir - de "Vira-casaca".
 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

CONTO DE FADAS BÍBLICO: BOAZ O REMIDOR DE RUTE

RUTE E SUA CORAGEM


Na Bíblia há a história de Rute, uma jovem que perdera seu marido, fora acometida por grandes adversidades, mas manteve sua dignidade e amor ao próximo, tornando-se uma das mulheres mais importantes da Bíblia e, também, fazendo parte própria descendência de Jesus.

Resumidamente, o livro de Rute conta a história da família de Elimeleque, que fora para os campos de Moabe, devido a uma grande seca que havia tocado a terra de Israel. Neste lugar, Elimeleque acaba morrendo juntamente com seu filhos Malom e Quilion, deixando sua esposa Noemi e noras Orfa e Rute viúvas. Noemi manda suas noras voltarem para suas mães, podendo assim desfrutar da proteção de novos maridos na terra de seus familiares. As duas jovens choram e não querem se apartar da sobra, porém, Noemi declara os fatos de forma amargurada, fazendo com que Orfa se despeça com um singelo beijo, mas Rute não se aparta de sua sogra dizendo as seguintes palavras "Não me instes para te deixar 'e me afaste de ti; porque, onde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei sepultada, se outra coisa que não se a morte me parar te ti" (RUTE, 1:17 ao 17). 

Ao chegarem em Israel, muitos se comovem com a desgraça de Noemei, tanto que a mesma declara seu fracasso mandando que a chamem de Mara, porque significava ser portadora de amargura que o Senhor a tinha proporcionado. Neste momento da história, podemos perceber o quanto é imprudente reclamarmos pelos caminhos que o Senhor Deus está nos fazendo trilhar, posto que  não sabemos quais são os seus propósitos. Seguindo a narrativa, as mulheres buscam vencer o luto e dar continuidade à vida. Rute sabe da existência do parente próximo de Elimeleque chamado Boaz, descrito como homem "valente e poderoso". Nas terras deste homem Rute vai colher espigas para alimentar ambas. Logo os olhos de Boaz são tomados pela figura de Rute e logo pede informação a um moço a respeito da jovem, o mesmo responde se tratar da Moabita que viera de sua terra para acompanhar a desventurada Noemi.

QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER

Rute e Boaz travam um diálogo, ela pede permissão para que possa colher espigas em suas terras. Boaz permite que ela colha espigas em suas terras, em contrapartida, pede para que ela não se afaste de seus campos, para que nenhum homem possa importuná-la.

Boaz reconhece a virtuosidade de Rute que deixara sua parentela e pátria para acompanhar Noemi, por isto afirma que Deus iria lhe dar galardão por seu feito. Devemos entender que a família de Rute estava em terra natal, ao contrário de Noemi, que era estrangeira na terra de Rute e lá perdera seu marido e filhos. Rute sentia que Noemi precisava muito mais dela do que sua família e espiritualmente falando, o Deus de Noemi falara ao coração de Rute, fazendo-a se compadecer e amar a mesma. Noemi não percebia, mas Rute era a expressão do amor de Deus, posto que mesmo sendo jovem e com medo de ficar viúva e desprotegida, ela rompeu todos os fatos mais prováveis que poderiam lhe acontecer, para não deixar só uma pessoa amada que agora estava desprotegida e sozinha. Boaz percebia o ato, ao perceber as condições de desventura que uma mulher jovem e viúva poderia vir a passar em um mundo adverso, por isto, trata logo de ajudá-la com provisão e proteção. Mais suas intenções vão além de admiração. Podemos inferir que há um início de paixão e amor de Boaz por Rute,  pois mesmo sendo de uma posição elevada, voltara-se para uma mulher que nem era sua serva e não fazia parte de suas responsabilidades. Estes atos de proteção e provisão acabam por chamar a atenção de Rute que diz: " Ache eu graça em teus olhos, senhor meu, pois me consolas-te e falaste ao coração de tua serva, não sendo eu nem ainda como uma das tuas servas" (RUTE, 2:12).

O que podemos aprender com Rute é que devemos amar e cuidar das pessoas, não deixando de seguir com honradez. Fazer o bem e ajudar sempre nos levará a um caminho de galardão. O fato dela ajudar Noemi, de início parece um caminho que a levaria à tristeza e desalento, mas são justamente estes atos de coragem que a levam a um lugar de destaque. O que aprendemos com Boaz é muito lindo, pois nele percebemos o que realmente é ser um homem de verdade. Boaz é "valente e poderoso", mas não usa seu poder de forma injusta e covarde, ao contrário, ele ajuda duas mulheres necessitadas, não se tornando omisso a situação delas nem agindo de forma irresponsável, deixando-as nas mãos de prováveis aproveitadores, mas da mesma forma como Cristo fez e faz pela sua igreja, Boaz protege.

Rute volta para sua casa, encontra-se com Noemi e conta que conhecera Boaz. A sogra logo percebe que poderia haver uma possibilidade de ajudar Rute e orienta para que ela demonstre interece em relação a Boaz, porque este era parente próximo e, como era costume dos Israelitas, ele poderia tomá-la como esposa para remir da vida de viúva. Neste momento da narrativa, percebemos as maiores provas de amo de Boaz por Rute. Seguindo as indicações de sua sogra, Rute se deita aos pés de Boaz, quando ele acorda se assusta e pergunta quem é, ela responde ser Rute, demonstrando seu interesse de que ele a tome como sua esposa ao dizer: "estende pois tua aba sobre a tua serva, porque tu és remidor" (RUTE, 3:9). Boaz promete casar com Rute, mas não a toma naquele momento para si, pois sabia que se fizesse isto estaria desgraçando a honra de Rute, pois tinha conhecimento que antes dele havia outro remidor. O ato de Rute de pedir que ele colocasse a aba sobre si era um pedido de amor e proteção. Coisa que muitas jovens colocam hoje sobre homens covardes, que usam sua posição para humilhar e desprezar o amor e o pedido de cuidado das jovens. É preciso ser muito "Boaz" para entender a responsabilidade de ser um homem e agir como um homem. Boaz não se aproveita de sua posição para se mostrar o gostosão de Israel, expondo Rute para a comunidade, ao contrário, ele pede para que ela se cubra, dá-lhe alimento e promete que irá lutar para casar com ela. Ele faz o que todo homem deve fazer: proteger, cuidar e amar. 

Depois que fala com o primeiro na lista de remidores de Rute, sabendo que ele não quer a responsabilidade dela para si, Boaz declara aos quatros quantos de Israel que irá casar com a Moabita que viera com Noemi. Aqui percebemos que Boaz acaba com todo por nos ilustrar todo ciclo de responsabilidade que um homem deve ter para com sua amada. Ao longo da história, Boaz percebe as necessidades de Rute que precisava de proteção, por ser uma mulher solitária, estrangeira e desprotegia; em seguida se torna mantenedor, porque sabe que a jovem não tem marido para pelear por ela, dando-lhe alimento que servirá para ela e sua sogra e por último, não se aproveita da declaração de amor dela, muito menos se aproveita da situação de fragilidade, mas ao contrário, declara que a tomará por esposa e a honra diante de Deus e dos homens.

O que aprendemos com o livro de Rute é simples, mas de grande proveito. Podemos entender que quando um homem ama uma mulher, ele protege, a ajuda em suas necessidades e a honra diante dos homens. Não se aproveita de sua posição para se mostra diante das pessoas, muito menos se tratando de uma viúva desprotegida em terra estrangeira. Vemos que quando uma jovem demonstra certa fragilidade em nossa sociedade, logo é tomada como fácil e machos fracos logo tratam de justificar suas "fraquezas" com covardias e maledicências, mas um homem de Deus olha com o olhar de Jesus e com compaixão ama e cuida. Jovens, leiam este livro e percebam o que é um verdadeiro homem de Deus para sua vida. Busque nas ações o seu Boaz. Não em beleza, mas em ações. Saibam que a beleza acaba e logo se perde dentro de um corações, quando só há maus tratos e falta de cuidados, mas um homem amoroso e cuidadoso faz nossa pele mais bela e nosso sorriso se tornar mais radiante de amor a cada dia.

Indo mais adiante, o livro nos mostra o amor de Deus pela humanidade. A mulher escolhida por Deus para dar início a descendência da raiz de Jesus, que é o Rei Davi, foi uma estrangeira Moabita. Uma mulher que tinha tudo para não ser escolhida por um homem de Israel como Boaz, mas, ao mesmo tempo, Deus não toma para sua obra de amor e compaixão qualquer um. Quem poderia ter sido o remidor de Rute e por consequência o bisavô de Davi era outro, mas este quando olhou que para herdar a terra de Elimeleque, teria que casar com uma viúva desistiu, então perdeu o bobão a honra de casar com a bisavó de Davi. Uma mulher que é honrada e juntamente com seu marido Boaz, faz parte da história do mundo. Aprendemos com isto que devemos ser corajosos, amando como Rute, sem olhar as circunstâncias e devemos ser humildes e fortes para proteger, cuidar e amar como Boaz. 

Depois de muito sofrer e penar meu Deus me deu o meu Boaz, meu marido que amo muito. Para mim era impossível, pois muitas vezes me vi como Rute: desprotegida, carente financeiramente e sentimentalmente falando, mas meu Deus retirou de mim o canto de Mara e me fez bem aventurada. Nosso Deus não mudou, ELE é o mesmo em todas as histórias.