UM OLHAR SOBRE A MALDADE INERENTE AO GÊNERO HUMANO EM MACBETH, SOB A ÓTICA DE THEODORE DALRYMPLE
Capa do livro "Nossa Cultura... ou o que restou dela", de Theodore Dalrymple (Theodore Dalrymple é, na verdade, o pseudônimo do médico psiquiatra e escritor inglês Anthony Daniels).
No ensaio "Por que Shakespeare é Universal", retirado do livro "Nossa cultura... ou o que restou dela", de Theodore Dalrymple, resumindo de forma genérica, o autor disserta sobre a maldade inerente ao ser humano. Para provar isto, ele usa a peça teatral do gênero tragédia de W. Shakespeare chamada "Macbeth",e, por meio desta, demonstra o quanto o mesmo fora Universal ao descrever as idiossincrasias peculiares dos seres humanos que sempre buscam saciar seus desejos, mesmo que isto implique a destruição dos outros...
Segundo Theodore Dalrymple, a psicanálise moderna, personificada por ele na figura de Peter D. Kramer, que defende a ideia de que as pesquisas modernas avançadas, juntamente com as "pílulas mágicas", não somente trataria e tratam sujeitos que sofrem de doenças psíquicas como a depressão, mas até salvaria a humanidade da temida angústia existencial que todos nós sentimos - mesmo que não saibamos dizer o porquê. Todavia, o psiquiatra Theodore Daltymple mostra, com seus estudos feitos em prisões, manicômios e em vários países devastados por guerras civis ou que estão passando por calamidades de toda má sorte, afirma que estas "mágicas" da medicina não conseguiu atingir a panaceia para as funestas misérias da alma humana. Como afirma Dalrymple "Shakespeare já sabia de uma coisa que temos crescente aversão para reconhecer: não existe qualquer reparo de ordem técnica para os problemas da humanidade" (DALRYMPLE, 2015, P. 54). Mas se não existe problema de ordem técnica, será que existe outra solução?
Diante dos fatos históricos como a Segunda Guerra Mundial e O Regime Socialista da União Soviética, Dalrymple usa as famosas frases de dois grande pensadores Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno e Alexander Issaiévich Soljenítsyn: "o filósofo alemão e teórico Theodor Adorno dissera que depois de Auschwitz não poderia mais haver poesia [...]. Solzhenitsyn (...) escreveu um ciclo de sonetos sobre Gulag, no qual ele se referia depreciativamente às tragédias de Shakespeare como 'mera bravata' - uma expressão que repetiu muitas vezes, como um refrão, para sublinhar a natureza do mal soviético" (DALRYMPLE, 2015, P. 55). Exemplificando, o primeiro queria dizer que com as barbáries da Segunda Guerra Mundial, não se poderia acreditar no belo e no bom, o segundo seguia a mesma linha de pensamento, chegando a dizer que a maldade dos tipos psicológicos universais descritos nas tragédias de Shakespeare não se comparavam a verdadeira capacidade que o homem tem de fazer o mal como ele mesmo vivenciou na União Soviética.
Mudando um pouco de assunto, mas não deixando de versar sobre o tema. O interessante é que o Alesander Solzhenitsyn, fora um ativista Comunista chegando até a adquirir patentes na União Soviética, mas ao explanar algumas criticas contra Stalin, acabou sendo preso em Gulag, que era um campo de concentração de trabalhos forçados para presos políticos e outras espécies de criminosos, para onde, no fim das contas, estes indivíduos eram enviados à morte. Diante desta realidade, Alesander Solzhenitsyn se voltou ao Cristianismo, chegando até a afirmar a seguinte máxima em um momento muito importante de sua vida:
Em grande parte se entende o pensamento dos escritores citados anteriormente, mas Dalrymple afirma que isto já era previsto na obra de Shakespeare, só que da forma como realmente deve ser vista. Os fatos da Segunda Guerra Mundial e da União Soviética só tomaram proporções gigantescas, mas em nada deixou a dever a explanação dos tipos psicológicos de Shakespeare tanto para nos alertar sobre o mal que mora conosco, como para nos fazer entender os outros. Para explicar melhor isto, podemos ver a citação abaixo (DALRYMPLE, 2015, P.61):
É sobre este fenômeno de que "independente da condição social" ou da inclinação que o indivíduo tenha sofrido ou venha sendo impulsionado para o bem ou para o mal, sempre a inclinação é para a segunda opção e, para se chegar a primeira opção (o bem), será sempre necessário empreitar uma saga individual de negação de si mesmo. Isto é o que não acontece na tragédia "Macbeth", de Shakespeare... e, por isso, ela é o exemplo que Dalrymple usa para explanar a premissa de que o homem não é bom. Vamos entender mais sobre este artigo resumindo a tragédia citada anteriormente...
A tragédia gira em torno do general Macbeth, que peleia em nome do rei da Escócia Duncan. A peça se inicia em um campo de batalha onde o general Macbeth se destaca por sua bravura. No caminho de volta para o acampamento do exército, Macbeth e seu companheiro Branquo encontram três figuras terríveis. Trata-se de três bruxas que proferem profecias e uma delas declara que Macbeth será rei da Escócia. Ao escrever uma carta para sua esposa Lady Macbeth contando o fato intrigante, a mesma inicia um plano para que o marido cometa o regicídio, concretizando logo a profecia. Todavia, Macbeth tem uma luta existencial dentro de si, porque não quer ser assassino de um rei justo que tanto o afortunara, mesmo ambicionando o poder. Então, sua esposa exercendo uma espécie de voz de gênio do mal e diabólico, começa a questionar a coragem do marido, fomentando nele além do desejo de poder, o desejo de provar sua força. O final da tragédia, como toda tragédia deve ser, é triste. Eles rompem a fronteira do "mal aceitável". A própria consciência de Lady Macbeth a faz perder a sanidade cometendo suicídio e o agora rei da Escócia Macbeth é um homem atormentado por espectros e tem uma derrota nefasta proporcionada pelos filhos do antigo e verdadeiro rei.
Tomando este resumo para explicar a teoria de Dalrymple, podemos compreender porque ele explica o quanto o indivíduo tem que lutar contra a fomentação de determinados desejos ou talvez todos os desejos, posto que "existe uma fronteira que, uma vez cruzada, priva o homem de sua humanidade completa. Fronteiras são aquilo que nos mantêm humanos, e não podem ser levianamente atravessadas" (DALRYMPLE, 2015, p. 65-66). Na peça, além da usurpação do trono, houve a destruição de uma vida e esta é uma barreira que torna um ser desumano.
No entanto, podemos pensar: "mas não matamos ninguém, em que isto serve para mim?". Há várias formas de você destruir alguém, só devemos analisar um pouco as nossas escolhas do cotidiano. Será que elas afetam de forma boa ou má a vida de outro ou não? Será que aquele nosso desejo, que muitas vezes não é algo necessário, não implicará na destruição de outro ser? Como afirma Dalrymple, ao ler a tragédia Macbeth: "A lição a se tirar é que, embora, em muitas circunstâncias, possa significar virtude, qualquer emoção ou desejo poderoso também abriga a capacidade de ser transformado em propósito maligno, caso escape do controle ético" (2015,p.62). Em linhas gerais, nosso desejo deve passar pelo crivo da ética, "nosso direito acaba quando a do outro começa" e para que este mecanismo possa fluir na sociedade, faz-se necessário as regras de nossa sociedade. "Somente se obedecermos às regras - as regras que contam - podemos ser livres" (DALRYMPLE, 2015, p. 66).
A Igreja, nesse contexto, tem o papel de abrir os olhos das pessoas para o perigo dos desejos e advertir sobre a constante inclinação para o mal. A sociedade moderna ou pós-moderna está tentando subverter os princípios éticos, tornando-nos hedonistas ( que é a ideia de viver o prazer como se não houvesse o amanhã) e narcisistas (pessoa que só pensa em si mesmo não se importando com os outros), tentando inferir ao homem que ele tem direito de realizar seus desejos mesmo que seja em detrimento dos direitos dos outros. Até dentro de nossos templos, a teologia da prosperidade está fomentando na mente dos membros a falsa ideia de que Deus é um ser soberano, mas que tem a "obrigação" de realizar os caprichos pessoais de cada um e que pode até machucar os outros irmãos, caso eles toquem nos "ungidos". Coloca-se Deus contra parede para realização dos desejos pessoais (Na verdade tenta, mas Deus é Deus e quem pode determinar alguma coisa diante Dele). Desejos estes que na maioria das vezes, realizando-se, poderiam ser a perdição do próprio indivíduo pedinte. Acerca do papel da Igreja em alertar sobre o mal inerente ao ser humano e o perigo dos desejos, afirma Dalrymple:
Muito bom, Yolanda! :)
ResponderExcluirMuito bom. Gostei...
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